A falácia do amor romântico, suas artimanhas e angústias
Amor romântico é aquele que diz que 1 + 1 faz 1. E pode parecer não ter muita lógica mesmo.
Mas o que orienta o amor romântico é a ideia de que duas pessoas fazem um.
É a ideia de que duas pessoas se tornarão tão próximas que saberão tudo uma da outra, que se comunicarão sem palavras, quase como se fossem se tornando uma coisa só.
O amor romântico pode ser tão sufocante que qualquer diferença, como ter interesses, desejos e objetivos diferentes, parece colocar esse amor em risco.
O amor romântico é um mito. Ele entrega uma falácia, um engano, uma sensação de que alguém consegue nos completar, já que o amor sempre toca nas nossas faltas.
As manobras do amor romântico, sua demanda excessiva de um outro que é idealizado, tendem a gerar muito sofrimento. A frustração dessa idealização é inevitável.
Isso porque o amor romântico não considera o desejo como livre, infinito enquanto há vida, em constante movimento (isso vale pro desejo próprio e pro do outro).
Na verdade, essa forma de amar tenta apagar o desejo, abafá-lo, fazer com que quase não se tenha notícias dele, porque só considera válido desejar uma coisa, um objeto, de uma forma bem específica.
Mas como construir um laço orientado pro real, se ele não reconhece nem que um desejo decidido não significa parar de desejar - e que isso é impossível?
O amor possui a capacidade de convocar o desconhecido - não precisa viver nessa repetição de achar que já se sabe tudo do outro e que constantemente é refutado, trazendo angústia.
Construir laços significativos que se atentem às armadilhas da idealização nos possibilita, inclusive, suportar o amor.
Morgana M Medeiros
CRP 06/140543