O instante de ver, o tempo de compreender e o momento de concluir
Esse texto é sobre o tempo das coisas do inconsciente.
Que não é o do relógio, aquele cronológico dos minutos, dias, anos. É outro. Por isso, lembramos e sentimos coisas do passado como se ainda estivessem muito presentes.
O tempo subjetivo tem um funcionamento bem próprio, e Lacan tentou organizá-lo logicamente. Apesar de parecer bastante abstrato, faz bastante sentido quando experienciamos um processo de análise.
O instante de ver, o tempo de compreender e o momento de concluir são os 3 tempos do sujeito do inconsciente, que podem acontecer em uma única sessão e no processo de análise de modo geral, em 15 minutos e 10 anos.
No primeiro, no instante de ver, há uma convocação para achar respostas de modo rápido: sobre nós mesmos, sobre as coisas, situações, sobre os outros.
Trata-se de uma precipitação da resposta, como se houvesse pressa em termos uma certeza. Vale dizer que há o risco de permanecermos nesse modus-operandi por uma vida toda.
Isso é visto no início de uma análise, quando chega-se com uma caixinha pronta sobre quem somos e vamos explicando tudo a partir do nosso óbvio.
Mas mesmo tendo muitas respostas prontas, elas falham. E assim a falta é sentida nesse primeiro momento de respostas apressadas, que mancam. Por isso é possível passar para um segundo momento.
No tempo de compreender, ocorre uma abertura que deixa o imediatismo e a pressa em suspenso, há a elaboração de hipóteses, ainda recheadas de incertezas e hesitações.
Ainda assim, o tempo para compreender já envolve uma reflexão do sujeito, que admite não ter tantas certezas assim no que antes parecia ser tão óbvio.
E isso nos leva a um terceiro tempo, que é complexo e se relaciona com a invenção e com o singular. O momento de concluir é quando há uma espécie de retificação subjetiva, já que ele implica não estar preso à lógica do outro, e, por consequência, descobrir uma lógica sua, afinal.
Morgana M Medeiros
CRP 06/140543