Autossabotagem neurótica e a produção do sofrimento 

É incrível a capacidade do neurótico conseguir, muitas vezes, produzir situações que lhe trazem muito sofrimento.

Tem coisa que o neurótico sabe, já tinha uma ideia, uma noção, mas mesmo assim, decide des-saber, não saber.

Como se fosse possível se defender o tempo todo: dos seus desejos, dos seus conflitos psíquicos, do que vai além das fantasias, da realidade.

E "des-sabendo", o neurótico se põe em lugares que se arrepende.

Faz escolhas impensadas. Se põe em condições que não consegue suportar.

A armadilha neurótica é agir na construção de cenários guiados por idealizações, não pelo possível, e depois se queixar que não está sendo como imaginou.

Indo além, o neurótico goza da própria reclamação, encontra uma satisfação mórbida nisso que o prende. Taí o caráter repetitivo da neurose.

No amor, o neurótico também busca o impossível da completude, buscando des-saber que isso está fadado ao fracasso.

O amor neurótico pode ser bastante reduzido, engessado, cheio de demandas do outro que são insustentáveis.

Se é possível se livrar das neuroses, ter uma vida "totalmente saudável, plena"? Claro que não.

É possível, no entanto, estar avisado de que uma neurose é uma forma de evitar conflitos inconscientes singulares.

Taí o efeito terapêutico de construir um saber sobre si mesmo durante o ato de se escutar.

Com o que se sabe, é possível fazer algo além da repetição.

Morgana M Medeiros
CRP 06/140543

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