Eu aguardo, mas não espero nada
Eu gosto muito dessa frase, porque ela diferencia esperar de aguardar. A psicanálise nos mostra que esses significantes não são sinônimos.
Em latim, esperar significa ter esperança. E a esperança vem bem ali onde há o sem sentido da vida, mesmo porque a realidade é bastante dura. A esperança vem ali onde ficamos sem porquês.
Muitas pessoas esperam, mas não aguardam nada. Esperam respostas, esperam mudanças, esperam milagres. Ao esperar, imaginam, fantasiam, idealizam. E se frustram.
A ansiedade é um ótimo exemplo disso: ela espera várias coisas, mas insiste em não querer aguardar.
Isso porque aguardar implica em uma abertura para o inimaginável.
Para o que não foi antecipado. E o que seria a ansiedade, se não uma antecipação de algo?
No aguardar, não há espaços para expectativas pré-fabricadas.
Podemos pensar inclusive na ética psicanalítica: o analista não espera nada, previamente, do analisando. O psicanalista aguarda o analisando, disposto a escutar o que vier, da forma como vier, sem idealizações.
Quando aguardamos sem esperar, nos surpreendemos com o que aparece, já que não procurávamos algo que nosso próprio imaginário construiu.
E, no fundo, nunca dá para prever muita coisa. Não é mesmo?
(A frase "Eu espero, mas não aguardo nada", foi dita por Lacan no Seminário 23: O sinthoma, em 1975-1976)
Morgana M Medeiros
CRP 06/140543