Deu errado ou fugiu do seu ideal?
Se algo aparentemente deu errado, é porque, no mínimo, algo se frustrou na situação. Geralmente quando exploramos mais a fundo esse sentimento, em algum momento esbarramos num emaranhado de fantasias de como as coisas deveriam ter sido e não foram.
Os ideais são, mesmo, aquelas coisas que temos como uma direção em nossas vidas, porém, nunca alcançamos exatamente. São como mandamentos que nos determinam, de como somos ou deveríamos ser. O efeito disso é derradeiro: não somos como gostaríamos de ser, as coisas não são como gostaríamos, e talvez nunca serão. Isso é bastante frustrante, mas não necessariamente ruim. Explico:
Os ideais estão relacionados com nossa imagem para o outro. Nos formamos como seres humanos a partir de uma alienação ao desejo de outros (cuidadores, pessoas que amamos, quem admiramos, mas também pessoas/coisas que não gostamos). Não teria como ser diferente, isto é algo estrutural. Se nos alienamos ao outro, tem algo que perdemos desde o início, nossa condição de sujeito desejante.
Uma das grandes perguntas de ouro da psicanálise é, inclusive, se é possível separar-se dessa mistura entre o eu e o outro. A análise nos diz que sim, em alguma medida, há de ser possível abrir espaço para alguma separação, o que geralmente envolve um "conhecer-se para desconhecer-se".
Então, quando as coisas não são como gostaríamos, como idealizamos, não necessariamente precisam também ser colocadas no lugar de erradas, inadequadas. Não precisa ser tão ruim frustrar o ideal. Afinal, deu errado porque fugiu do que imaginou, ou deu certo demais, porque mostrou algo de si que escapou desses ideais identificados?
Morgana M Medeiros
CRP 06/140543