Procrastinar é evitar

"Cras", do latim, significa amanhã. E o que seria a procrastinação se não um contínuo "faço depois" que parece nunca chegar e/ou só chega quando há um limite pungente (geralmente do outro, ou da vida)?

Para o inconsciente neurótico, parece mais viável evitar e se queixar, falar disso por horas, reclamar muito do que supostamente deveria estar fazendo, do que de fato agir e atuar naquilo que se queixa.

Quem procrastina espera um momento, supostamente ideal, que nunca vai chegar. Como se, no amanhã, fosse haver uma certeza, uma vontade, um ímpeto que no hoje não havia. Algo até meio místico, se formos parar para pensar.

Talvez a procrastinação não seja só a evitação das obrigações, compromissos e etc, mas, sim, do próprio desejo. E o desejo não está no âmbito da obrigação.

Talvez a procrastinação revele que nossas escolhas (o que fazemos ou deixamos de fazer com nosso desejo) não fazem tanto sentido assim.

A procrastinação comumente se relaciona com evitar uma angústia, essa que carrega uma verdade - a verdade do sujeito.

O que é bastante incômodo, porque escapa dos nossos ideais, de como nos vemos, como imaginamos que deveríamos ser.

Mas evitar as suas verdades tem um custo - uma espécie de desimplicação com sua própria vida.

De fato, uma morte em vida.

Morgana M Medeiros
CRP 06/140543

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